OS BERBERES DA ANTIGUIDADE: HISTÓRIA E CULTURA

 


Os berberes são povos que vivem na região norte da África, principalmente no atual Marrocos e Argélia (áreas compostas pelo deserto do Saara). Falam a língua berbere de origem camito-semítico.São considerados os povos mais antigos do continente africano. A maioria dos berberes segue a religião muçulmana.

Os povos berberes têm uma história rica e complexa que remonta à antiguidade. Eles são considerados um dos habitantes mais antigos do Norte da África, mencionados em documentos egípcios do quarto milênio antes de Cristo³. Organizados em tribos, os berberes dedicavam-se à caça e à criação de gado, e sua arte era marcada por uma expressão geométrica, enquanto sua religião era animista e zoolátrica.

Durante a Antiguidade, a região do Norte da África foi colonizada primeiro pelos fenícios e depois pelos cartagineses, que estabeleceram um vínculo cultural permanente com os povos autóctones, os berberes. Gregos e, principalmente, romanos, também aportaram na região. Com o Império Romano, todo o Norte da África, com exceção do Egito, foi transformado em províncias específicas. A cultura dos berberes é rica e variada, marcada pela diversidade de tradições, música, dança, artesanato e culinária. Eles são conhecidos por suas intrincadas joias, tapetes, cerâmicas e trabalhos em couro. A cultura berbere também valoriza muito a hospitalidade e respeita a sabedoria dos mais velhos.

Os berberes estiveram em contato com o Egito Antigo desde tempos antigos. As rotas comerciais transsaarianas facilitaram o comércio de produtos como ouro, marfim entre o norte da África e o Egito. Além disso, os berberes frequentemente serviam como mercenários ou soldados nas forças militares egípcias.

Os fenícios e, mais tarde, os cartagineses, estabeleceram colônias comerciais e postos avançados ao longo da costa norte-africana. Eles negociavam com os berberes por recursos naturais, como metais preciosos, e estabeleciam rotas comerciais que conectavam o norte da África ao Mediterrâneo. A cidade de Cartago, localizada na atual Tunísia, foi um centro importante desse comércio e exercia influência sobre muitas comunidades berberes.

Atualmente, a maioria dos berberes possui residência fixa e habitam, principalmente, no norte do continente africano. Muitos vivem em áreas montanhosas, principalmente nas cordilheiras do Atlas e Rife, localizadas no Marrocos. A língua berbere, de origem camito-semítica, é falada pelo povo berbere, com vários dialetos distintos, como Tamazight, Tashelhit e Kabyle. Além do árabe, o francês e o espanhol também são falados por muitos berberes devido à influência histórica do domínio colonial no norte da África.

 

Mapa dos grupos berberes 


Pré-História

 

A história antiga dos povos berberes remonta a milhares de anos e está profundamente enraizada na região do norte da África. Os berberes têm uma presença antiga na região do norte da África, com evidências arqueológicas sugerindo que eles habitavam a área desde o período pré-histórico. Pinturas rupestres e artefatos encontrados em várias partes do Saara e do Magrebe indicam uma presença humana antiga, datando de milhares de anos atrás.

Durante a antiguidade, a região do norte da África foi o lar de várias civilizações e culturas berberes distintas. Uma das primeiras civilizações berberes conhecidas, que floresceu no oásis de Garama (atual Líbia) por volta do século VII a.C. Os imonitas eram conhecidos por suas habilidades agrícolas, especialmente no cultivo de tamareiras, e por sua organização política em cidades-estado.

Localizado no que é hoje a Argélia e a Tunísia, o Reino de Numídia foi um dos estados berberes mais influentes da antiguidade. Conhecido por sua riqueza e poder militar, os numídios frequentemente interagiam com as civilizações vizinhas, como Cartago e Roma.

Os berberes antigamente estabeleceram contatos comerciais e culturais com várias civilizações estrangeiras, incluindo os egípcios, fenícios, gregos e romanos. O comércio de produtos comosal, ouro, marfim e escravos era comum ao longo das rotas comerciais transsaarianas e marítimas. Durante o período romano, grande parte do norte da África estava sob controle do Império Romano. As províncias romanas da África (incluindo Numídia, Mauritânia e África Proconsular) foram marcadas por uma mistura de culturas romana e berbere, com muitos berberes adotando a língua latina e o cristianismo.

Após a queda do Império Romano, a região testemunhou uma série de invasões e migrações, incluindo os vândalos, os bizantinos e os árabes muçulmanos. Estes eventos levaram a uma transformação significativa na paisagem política, cultural e religiosa do norte da África, com muitos berberes se convertendo ao islã e desempenhando papéis importantes na expansão muçulmana pela região.

Os principais grupos berberes, que também correspondem a grupos linguísticos distintos, incluem os Tuaregues, os Tamazights e os Chleuhs. Além destes, existem outros grupos importantes como os Chaouias, os Rifains e os Kabyles. Cada uma dessas tribos tem suas próprias tradições, dialetos e modos de vida que refletem a diversidade cultural do povo berbere.


Cultura e Religião


Os berberes desenvolveram uma cultura distinta, influenciada por sua história antiga, geografia única e interações com outras civilizações. Sua cultura era rica em música, dança, poesia, artesanato, culinária e festivais tradicionais, refletindo sua conexão com a natureza e sua vida cotidiana.

A língua berbere é uma língua afro-asiática, com várias variantes regionais. Na antiguidade, os berberes usavam sistemas de escrita próprios, como o alfabeto tifinagh, embora muitos também tenham adotado sistemas de escrita estrangeiros, como o alfabeto latino e o alfabeto árabe.

A religião dos berberes na antiguidade era predominantemente animista, com crenças em divindades associadas à natureza, espíritos ancestrais e culto aos antepassados, eles acreditavam em uma série de divindades que representavam elementos naturais, como o sol, a lua, as montanhas, os rios e os animais.

Ao longo do tempo, os berberes entraram em contato com várias civilizações e culturas estrangeiras, incluindo os egípcios, fenícios, gregos, romanos e cartagineses. Essas interações levaram a uma sincronização cultural, com os berberes absorvendo e influenciando aspectos das culturas estrangeiras, ao mesmo tempo em que mantinham suas próprias tradições distintas

Com a chegada do cristianismo e, posteriormente, do islamismo, muitos berberes adotaram essas novas religiões e desempenharam papéis importantes em sua disseminação na região do norte da África. O islamismo, em particular, teve um impacto significativo na cultura e na religião dos berberes, moldando sua identidade e influenciando sua arte, arquitetura e práticas sociais. Apesar das influências estrangeiras, os berberes frequentemente resistiam à assimilação cultural, defendendo suas tradições e línguas contra pressões externas. Essa resistência cultural contribuiu para a preservação da identidade berbere ao longo dos séculos e continua a ser uma característica importante da cultura berbere contemporânea.

 

A adaptação de vida dos berberes

Grupo bebere nômade no deserto do saara

Os berberes adaptaram-se ao ambiente desértico de várias maneiras, aproveitando ao máximo os recursos disponíveis e desenvolvendo técnicas para sobreviver em condições extremas. Os berberes eram nômades habilidosos, usando camelos para atravessar o deserto do Saara. Os camelos são animais bem adaptados à vida no deserto, capazes de transportar cargas pesadas e percorrer longas distâncias sem água.

 Eles construíram habitações que refletiam as necessidades do ambiente desértico, como tendas feitas de peles de animais que podiam ser facilmente montadas e desmontadas durante as migrações, o vestuário tradicional berbere, como o turbante, protegia-os do sol escaldante e das tempestades de areia. Em áreas onde a agricultura era possível, os berberes praticavam a agricultura em terraços e oásis. Além disso, eles estabeleceram rotas comerciais transaarianas, trocando mercadorias como sal e tecidos por outros bens. Os berberes tinham um conhecimento profundo do terreno desértico, o que lhes permitia encontrar rotas seguras e fontes de água, a dieta dos berberes incluía alimentos que podiam ser preservados, como tâmaras secas, que forneciam energia e eram resistentes ao calor.

Essas adaptações não só permitiram que os berberes sobrevivessem, mas também prosperassem no deserto, estabelecendo uma cultura rica e uma economia baseada no comércio transaariano.

 

A economia dos berberes

Mercado de especiarias berbere (Marrocos)

A economia dos povos berberes da antiguidade era predominantemente baseada no comércio. Eles eram conhecidos por serem nômades habilidosos que utilizavam camelos para transportar mercadorias através do deserto do Saara. Os berberes comercializavam uma variedade de produtos, incluindo tecidos, alimentos, sal, artesanato e joias. Além disso, os oásis desempenhavam um papel crucial como pontos de descanso e troca durante as longas viagens pelo deserto.

Os berberes também foram pioneiros nas rotas comerciais entre a África Ocidental e a África Subsaariana, contribuindo significativamente para o comércio transaariano. Eles transportavam e comercializavam itens diversos, como peles de animais, marfim, cerâmicas, lanças, pedras preciosas e até escravos capturados em batalhas. Essas atividades comerciais não apenas impulsionavam a economia berbere, mas também facilitavam a circulação de informações importantes e aspectos culturais entre diferentes regiões e povos.

A vida econômica dos berberes é bastante diversificada e varia dependendo de sua localização geográfica. Alguns são agricultores sedentários que cultivam colheitas como azeitonas, figos, tâmaras e cereais, enquanto outros são nômades ou seminômades, pastoreando ovelhas, cabras ou camelos. Nas regiões montanhosas, a agricultura em terraços é comum. Muitos berberes também se dedicam à indústria artesanal, produzindo itens como tapetes, cerâmica e joias. Nos últimos anos, vários berberes se mudaram para áreas urbanas em busca de oportunidades de emprego, contribuindo para a crescente tendência de urbanização.

A maioria dos berberes são muçulmanos sunitas, um legado da conquista árabe do norte da África no século VII. No entanto, as práticas religiosas berberes podem variar amplamente e podem incorporar tradições culturais pré-islâmicas. Algumas comunidades em regiões mais remotas ainda praticam religiões berberes tradicionais ou têm crenças sincréticas que combinam práticas islâmicas com costumes indígenas².

Os maiores estados berberes ao longo da história incluíram poderosos reinos e impérios que desempenharam um papel significativo na região do Norte da África:

Reinos de Tahert, Tremecém e Fez: Estes foram alguns dos estados independentes formados por uniões de tribos berberes.

Império Almorávida: Uma dinastia berbere que estabeleceu um império no século XI, abrangendo partes do atual Marrocos, Argélia, e se estendendo até a Espanha e Portugal. Império Almóada: Outro grande império berbere, que surgiu após o declínio dos Almorávidas e controlou uma área semelhante, incluindo partes do Norte da África e da Península Ibérica no século XII1.

Esses estados não só consolidaram o poder político e militar dos berberes, mas também foram centros de aprendizado e cultura, contribuindo para o desenvolvimento da identidade berbere e influenciando as regiões circundantes.

 

Legado


Os berberes da antiguidade interagiram com várias civilizações estrangeiras que estavam presentes na região, incluindo os egípcios, fenícios, gregos, romanos e cartagineses. Essas interações envolviam comércio, alianças políticas, conflitos e assimilação cultural, influenciando e sendo influenciados por essas civilizações estrangeiras ao longo do tempo.

O legado dos berberes da antiguidade é evidente até os dias de hoje, com muitos aspectos de sua cultura, língua e identidade ainda presentes nas sociedades do norte da África. Sua resistência à assimilação e sua capacidade de adaptação a diferentes contextos históricos contribuíram para sua sobrevivência e para a preservação de sua herança ao longo dos séculos.

 

Sugestões de leitura:

  • https://pt.wikipedia.org/wiki/Berberes
  • The Berbers por Michael Brett e Elizabeth Fentress
  • The Berbers: Their Social and Political Organisation por Ernest Gellner
  • The Berber Identity Movement and the Challenge to North African States por Bruce Maddy-Weitzman
  • The Berbers of Morocco por David Hart
  • The Berbers in Arabic Literature por R.S. O'Fahey
  • Berber Government: The Kabyle Polity in Pre-colonial Algeria por Ernest Gellner
  • The Berbers: The Peoples of Africa por Margaret A. Norris
  • The Berber World: History and Culture of North Africa por Michael Brett

Uma África Desconhecida

"𝕸𝖆𝖎𝖘 𝕬́𝖋𝖗𝖎𝖈𝖆𝖒𝖆𝖎𝖘 𝖆𝖒𝖔𝖗 𝖊 𝖒𝖊𝖓𝖔𝖘 𝖔́𝖉𝖎𝖔"


Comentários

𝐏𝐎𝐒𝐓𝐀𝐆𝐄𝐍𝐒 𝐏𝐎𝐏𝐔𝐋𝐀𝐑𝐄𝐒

O IMPÉRIO IORUBA DE OIÓ: CULTURA E SOCIEDADE

O POVO KUBA E A CRIAÇÃO DO UNIVERSO: REVELANDO O REINO CÓSMICO DE MBOMBO

SISTEMAS DE CRENÇAS, LENDAS E ESPIRITUALIDADE AFRICANA

CONTOS AFRICANOS: TESOUROS CULTURAIS TRANSMITIDOS PELA TRADIÇÃO ORAL

AS MULHERES AFRICANAS QUE LIDERARAM IMPÉRIOS E EXÉRCITOS

SISTEMAS DE ESCRITA DA ÁFRICA

A ARTE AFRICANA E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO CONTEMPORANEO

O REINO DO BENIN E O DOMINIO DA FUNDIÇÃO DO BRONZE

O IMPÉRIO MWENEMUTAPA: DAS ORIGENS AO DECLÍNIO

EFIKO: UMA CELEBRAÇÃO DA MATURIDADE NAS COMUNIDADES DO SUL DE ANGOLA