O IMPÉRIO IORUBA DE OIÓ: CULTURA E SOCIEDADE



O Império de Oió (em iorubá: Ilú-ọba Ọ̀yọ́; c. 1400 - 1835) foi um império da África Ocidental localizado no que é hoje o sudoeste da Nigéria e o sudeste do Benim. O império foi fundado por iorubás no século XV e cresceu ao ponto de se tornar um dos maiores estados do Oeste africano. Foi o estado mais importante na região de meados do século XVII ao fim do XVIII, dominando não só outros estados iorubás mas também de povos vizinhos, sendo o mais notável os Fons do Reino do Daomé, localizado no que é hoje o Benim.


Origem


A origem mítica do Império de Oyo está profundamente enraizada na tradição oral dos povos iorubás, que habitavam a região onde o império se desenvolveu. De acordo com essa tradição, o Império de Oyo foi fundado por Oranmiyan, uma figura lendária e ancestral reverenciada pelos iorubás. A história conta que Oranmiyan era um príncipe de Ifé, uma cidade iorubá considerada a terra natal do povo iorubá e muitas vezes vista como o centro cultural e espiritual da região. Oranmiyan era filho de Oduduwa, o progenitor lendário dos iorubás, que é creditado com a criação do mundo e da humanidade, de acordo com a mitologia iorubá.

Segundo a lenda, o príncipe do reino iorubá de Ifé, Oraniã, fez um acordo com seu irmão para lançar uma incursão punitiva contra seus vizinhos do norte, que haviam insultado seu pai, o obá Odudua, o primeiro oni de Ifé. Durante a jornada, os irmãos desentenderam-se, e o exército foi dividido. A tropa de Oraniã não era suficiente para um ataque bem-sucedido, então eles vagaram pela costa sul até chegarem a Bussa.

Lá, o chefe local ofereceu a Oraniã uma grande serpente com um encanto mágico amarrado à garganta. O chefe instruiu Oraniã a seguir a cobra até que ela parasse em algum lugar por sete dias e desaparecesse no solo. Após uma série de eventos e disputas de sucessão em Ifé, Oranmiyan partiu em uma jornada em busca de sua própria terra para governar. Ele viajou para o leste e estabeleceu Oyo-Ile (a cidade de Oyo) como a capital de um novo reino, que eventualmente se tornaria o Império de Oyo.

Oraniã seguiu o conselho e fundou Oió onde a serpente desapareceu. Tornou-se o primeiro obá com o título de alafim de Oió (alafim significa “dono do palácio” em iorubá), deixando todos os seus tesouros em Ifé e permitindo que Adimu assumisse o trono


Localização do império Oió 

A fundação de Oyo por Oranmiyan é envolta em lendas e mitos que celebram sua bravura, sabedoria e habilidade para governar. Essas histórias são transmitidas através da tradição oral iorubá e são parte integrante da identidade cultural e histórica do povo iorubá e do próprio Império de Oyo. Embora as narrativas míticas não forneçam um registro histórico preciso, elas desempenham um papel vital na compreensão da origem e do desenvolvimento do império na imaginação e memória coletiva dos iorubás.

O coração de Oió foi a sua capital Oió-Ilê, também conhecida como Catunga, Velha Oió e Oió-Orô. As duas estruturas mais importantes em Oió-Ilê eram o afim (palácio do obá) e o seu mercado. O palácio ficava no centro da cidade, perto do mercado do obá (Ojá-obá). Ao redor da capital, havia uma alta muralha de terra com 17 portas. A grandeza das duas estruturas (o palácio e o Ojá Obá) simbolizavam a importância do rei em Oió.

 

Estrutura Social


A sociedade de Oyo era altamente estratificada. No topo estava o Alafin (ou Alaafin), o rei, que era considerado uma figura semi-divina. Abaixo do Alafin estava uma classe nobre composta por chefes de clãs e nobres chamados Ogboni. Em seguida vinham os guerreiros, seguidos pelos agricultores, comerciantes e, por último, os escravos e servos.

No topo da hierarquia estava o Alafin, o rei supremo de Oyo. O Alafin era considerado uma figura semi-divina e detinha autoridade absoluta sobre o reino. Sua palavra era lei, e ele governava com o apoio de um conselho de chefes e nobres. Abaixo do Alafin estavam os chefes de clãs e nobres, conhecidos como Ogboni. Essas figuras desempenhavam papéis importantes na administração do reino e na tomada de decisões políticas. Eles também eram responsáveis por representar os interesses de seus clãs e comunidades perante o Alafin.

Os guerreiros formavam uma classe distinta na sociedade de Oyo. Eles eram responsáveis por proteger o reino contra ameaças externas e manter a ordem interna. Muitos deles ocupavam posições de destaque no exército e na administração militar. Abaixo dos guerreiros estavam os agricultores e trabalhadores comuns. Eles desempenhavam papéis essenciais na economia do reino, cultivando alimentos e realizando diversas tarefas de trabalho manual.

Na base da hierarquia estavam os escravos e servos. Essas pessoas geralmente eram prisioneiros de guerra ou indivíduos que se encontravam em situações de servidão por várias razões. Eles tinham poucos direitos e estavam sujeitos ao domínio de seus senhores. A estrutura social de Oyo era rigidamente hierárquica, com pouca mobilidade social entre as diferentes classes. A posição de uma pessoa na sociedade era determinada principalmente por seu nascimento e status familiar. No entanto, havia oportunidades para ascender na hierarquia social através de mérito e realizações pessoais, especialmente na esfera militar e administrativa.


Sistema Político


 O sistema político de Oyo era monárquico e altamente centralizado. O Alafin era o líder supremo, mas ele governava com o apoio de um conselho de chefes e nobres. O governo também incluía uma série de oficiais e ministros que administravam diferentes aspectos do reino. Oyo era uma monarquia, onde o Alafin detinha autoridade suprema sobre o reino. Ele era considerado uma figura semi-divina e sua palavra era lei. A sucessão ao trono geralmente seguia uma linha hereditária, mas às vezes havia disputas e intrigas políticas em torno da sucessão.


Palacio do rei alafin

Embora o Alafin fosse o governante supremo, ele governava com o apoio de um conselho de chefes e nobres, conhecido como Oyo Mesi. Este conselho desempenhava um papel importante na tomada de decisões políticas e assuntos de Estado. Os membros do Oyo Mesi eram escolhidos entre os chefes de clãs e nobres mais proeminentes do reino. Além do Oyo Mesi, o governo de Oyo incluía uma série de oficiais e ministros encarregados de administrar diferentes aspectos do reino. Estes incluíam o Aremo (príncipe herdeiro), o Bashorun (primeiro ministro), o Balogun (comandante militar) e outros cargos administrativos.

O Império de Oyo era dividido em províncias governadas por autoridades locais conhecidas como Afobajes. Esses governantes provinciais tinham autoridade limitada sobre suas áreas designadas e eram responsáveis por administrar a justiça, cobrar impostos e manter a ordem local. O sistema político de Oyo era altamente centralizado, com o Alafin exercendo controle sobre todas as principais decisões e políticas do reino. A autoridade do Alafin era reforçada por sua posição semi-divina e pelo apoio do Oyo Mesi e de outros oficiais e ministros.

O sistema político de Oyo era eficaz em manter a coesão e a ordem dentro do reino, embora também houvesse desafios e disputas políticas, especialmente em torno da sucessão ao trono e da distribuição de poder entre os diferentes líderes e facções. O sistema de clãs em Oyo era fundamental para a organização política e social do reino. Os clãs eram unidades sociais e políticas que desempenhavam papéis importantes na estrutura de poder. Os chefes de clãs tinham considerável influência sobre seus seguidores e eram parte integrante do conselho consultivo do Alafin.

 

Economia e Comércio


A economia de Oyo era baseada principalmente na agricultura, com cultivo de alimentos como milho, mandioca e inhame. Além disso, Oyo era um importante centro comercial, envolvido no comércio de produtos como sal, tecidos marfim e outras especiarias.

 A agricultura era a base da economia de Oyo. Os agricultores cultivavam uma variedade de culturas, incluindo milho, mandioca, inhame, feijão e palma de óleo. Esses produtos alimentares forneciam sustento para a população e eram frequentemente trocados em mercados locais e regionais. Oyo possuía uma extensa rede de mercados internos onde os produtos agrícolas, artesanato e outros bens eram trocados. Esses mercados eram locais de encontro importantes onde os comerciantes e agricultores de diferentes regiões podiam negociar e interagir.Oyo também participava ativamente do comércio externo, envolvendo-se em rotas comerciais que se estendiam por toda a África Ocidental e além. O reino era conhecido por seu comércio de produtos como sal, escravos, tecidos, marfim e ouro. O ouro, em particular, era uma importante commodity de exportação e contribuía significativamente para a riqueza do reino.

O artesanato desempenhava um papel importante na economia de Oyo. Artigos como tecidos, cerâmicas, cestaria e utensílios de bronze eram produzidos por artesãos locais e frequentemente trocados no comércio interno e externo. O governo de Oyo implementava um sistema de tributação onde os chefes de clãs e comunidades locais eram responsáveis por coletar impostos dos residentes de suas áreas. Esses tributos incluíam produtos agrícolas, mão de obra e outros recursos, que eram enviados para o governo central em Oyo-Ile.

 Oyo se beneficiava de sua localização estratégica no cruzamento de rotas comerciais importantes. Isso permitia que o reino participasse do comércio regional e transcontinental, facilitando o intercâmbio de bens e culturas com outras sociedades da África Ocidental, como Mali, Songhai e Benim. O comércio e a economia de Oyo desempenharam papéis essenciais na prosperidade e na estabilidade do império, contribuindo para sua influência política e riqueza material. O sucesso econômico do reino foi sustentado por sua produção agrícola, suas atividades comerciais e seu envolvimento em redes comerciais regionais e internacionais.

 

Arte e Cultura


A cultura de Oyo era rica e influente, com expressões artísticas em escultura, tecelagem, música e dança. A religião desempenhava um papel importante na vida cotidiana, com crenças em divindades iorubás e práticas rituais. A arte de bronze era especialmente proeminente em Oyo.

Oyo era conhecido por sua habilidade em trabalhar com bronze e outros metais. A arte em bronze, em particular, era uma forma de expressão altamente desenvolvida, com esculturas e artefatos que retratavam figuras humanas, animais e divindades. Estas peças eram frequentemente usadas em contextos cerimoniais e religiosos, bem como em decoração e ornamentação.

Arte de bronze ioruba, Nigéria 

A tecelagem era uma habilidade importante em Oyo, com tecidos produzidos a partir de algodão e outras fibras vegetais. Estes tecidos eram tingidos em cores vibrantes e muitas vezes adornados com padrões geométricos e simbólicos. Vestimentas feitas destes tecidos eram usadas como roupas de status e para cerimônias especiais. A música e a dança eram partes integrantes da vida cultural de Oyo. Instrumentos musicais como tambores, flautas e instrumentos de corda eram usados em rituais religiosos, festivais e celebrações. A dança era uma forma de expressão artística e social, com movimentos rituais que transmitiam histórias, mitos e tradições

A religião desempenhava um papel central na vida cultural de Oyo, com crenças em divindades iorubás e práticas rituais que permeavam todas as esferas da sociedade. Mitos e lendas iorubás forneciam uma base para a compreensão do mundo e da cosmologia, e muitas vezes eram representados em artefatos artísticos e literários.

Embora Oyo não seja tão conhecido por sua arquitetura monumental quanto outros impérios africanos, como o Império do Mali ou do Benim, ainda havia estruturas importantes dentro do império. Isso incluía palácios reais, templos religiosos, muralhas defensivas e outras construções que serviam a fins administrativos, cerimoniais e religiosos.

A tradição oral desempenhava um papel vital na preservação e transmissão da cultura de Oyo. Histórias, poemas épicos, provérbios e mitos eram passados de geração em geração por meio da oralidade. Embora Oyo não tenha uma tradição literária escrita tão desenvolvida quanto outras culturas, como a dos iorubás em Ifé, as narrativas orais eram uma parte essencial da identidade cultural e histórica do império.

 

Declínio e Legado:


As ruínas de Oyo-Ile

Oyo começou a declinar no final do século XVIII, devido a fatores como pressões externas de grupos étnicos vizinhos, conflitos internos, mudanças nas rotas comerciais e a ascensão do poder dos estados europeus, declínio de Oyo foi acelerado pela chegada dos colonizadores europeus, especialmente os britânicos, que procuravam expandir seu domínio sobre a África Ocidental. Em 1896, os britânicos conquistaram e destruíram a capital de Oyo-Ile, efetivamente colocando um fim ao império O reino foi finalmente conquistado pelos britânicos no século XIX. No entanto, o legado de Oyo continua a ser sentido na cultura iorubá e na diáspora iorubá em todo o mundo. Sua arte, música, tradições políticas e religiosas deixaram uma marca duradoura na história da África Ocidental. As tradições artísticas e culturais de Oyo, incluindo a arte em bronze, tecelagem, música e dança, continuam a ser apreciadas e influentes na região e além. As ruínas de Oyo-Ile e outros sítios arqueológicos relacionados ao império são testemunhos tangíveis de sua história e patrimônio cultural, e são preservadas como importantes locais históricos na Nigéria.

 

Sugestão de leitura:

  • Oliver, Roland (1975). The Cambridge History of Africa. Cambridge: Cambridge University Press.
  • Law, Robin: O Império Oyo c.1600-c.1836: Um Imperialismo da África Ocidental na Era do Comércio de Escravos no Atlântico." Oxford University Press, 1977.
  • Ajayi, J. F. Ade and Robert Smith (eds.). "Guerra Iorubá no Século XIX." Imprensa da Universidade de Cambridge, 1964.
  • Falola, Toyin. " A História da Nigéria." Greenwood Press, 1999.
  • Thornton, John K. " África e os africanos na construção do mundo atlântico, 1400-1800." Cambridge University Press, 1998.
  • Ryder, Alan Frederick Charles. " Benin e os Europeus, 1485-1897." Longman, 1969.
  • Akinjogbin, I. A. " Guerra na história e lenda iorubá." University of Ife Press, 1964.
  • Morton-Williams, Peter. " O Reino Iorubá de Oyo." Oxford University Press, 1960.
  • Wilks, Ivor.  Ensaios sobre os Akan e o Reino dos Asante." Ohio University Press, 1993.

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