O Império do Mali foi um dos
grandes impérios da África Ocidental, que existiu aproximadamente entre os
séculos XIII e XVI. Foi fundado por 𝐒𝐮𝐧𝐝𝐢𝐚𝐭𝐚
𝐊𝐞𝐢𝐭𝐚
em torno de 1235 e atingiu o auge sob o reinado de Mansa Musa no século XIV. O
Império do Mali se estendia por uma vasta área que abrangia partes dos atuais
países do Mali, Senegal, Gâmbia, Guiné, Burkina Faso, Níger e Costa do Marfim.
Foi uma potência comercial importante, controlando rotas de comércio terrestres
e fluviais que ligavam o norte da África ao sul do Saara.
Origens
O Império de Mali (1240-1645 EC)
no oeste africano foi fundado por Sundiata Keita (r. 1230-1255) após sua
vitória sobre o reino de Sosso (c. 1180-1235 EC). O governo centralizado de
Sundiata, sua diplomacia e seus exércitos bem treinados permitiram expansão
militar massiva, abrindo caminho para a prosperidade do Império de Mali,
tornando-o o maior já visto na África. O reinado de Mansa Musa I (1312-1337
EC) levou o império a atingir novos níveis de grandiosidade em termos de
territórios controlados, efervescência cultural, e impressionante riqueza vinda
pelo controle do Mali sobre as rotas de comércio regional.
Sundiata Keita (também conhecido
como Sunjaata ou Sundjata, r. 1230-1255 EC) foi um príncipe Malinke, seu nome
significa “príncipe leão”, e ele travou guerra contra o reino de Sosso a partir
de 1230 EC. Sundiata formou uma poderosa aliança com outros chefes tribais
desapontados, fartos do governo duro de Samanguru, e derrotaram Sosso na
decisiva batalha de Krina (também conhecida como Kirina) em 1235 EC. Em 1240 EC
Sundiata capturou a antiga capital do Gana. Formando um governo centralizado de
líderes tribais e uma variedade de mercadores árabes influentes; essa
assembleia (gbara) declarou Sundiata o monarca supremo, e o conferiu títulos
honorários tais como Mari Diata (Senhor Leão). O nome que Sundiata escolheu
para o seu império, o maior da África até então, foi Mali, significando “o
lugar onde o rei vive”.
Organização Política e Administrativa
O Império do Mali tinha uma administração centralizada, com o imperador (Mansa) governando com o apoio de conselheiros e funcionários. O império era dividido em províncias governadas por governadores locais. Esse sistema político eficiente contribuiu para a estabilidade e o desenvolvimento do império. O Mansa, ou rei, seria auxiliado por uma assembleia de anciãos e chefes locais ao longo da história do Império de Mali, com audiências realizadas no palácio real ou sob uma grande árvore. O rei era também a fonte suprema da justiça, apesar da utilização recorrente de conselheiros legais. Além do mais, o rei era assessorado por uma variedade de ministros importantes como o chefe do exército e o mestre dos celeiros (posteriormente do tesouro), assim como outros oficiais como o mestre de cerimônias e o líder da orquestra real.
O comércio do ouro
O Império do Mali controlava
importantes rotas de comércio terrestres e fluviais que ligavam o norte da
África ao sul do Saara. O ouro era uma das principais commodities negociadas, e
o império tinha acesso a abundantes minas de ouro. O comércio de ouro trouxe
imensa riqueza para o império e permitiu o desenvolvimento de uma economia
próspera.
Como seus predecessores
políticos, o Império de Mali prosperou graças ao comércio e sua localização
privilegiada, situada entre as florestas tropicais do sul da África Ocidental e
os poderosos Califados Mulçumanos da África do Norte. O Rio Níger cedia acesso
fácil ao interior do continente e à costa do Atlântico, enquanto as caravanas
de camelo berberes que cruzavam o Saara garantiam que mercadorias valiosas
viessem do norte.
Os governantes de Mali tinham
rendimento triplo: taxavam o transporte de mercadorias, compravam e revendiam a
preços muito mais altos, e tinham acesso a recursos naturais próprios. De
maneira significativa, o Império de Mali controlava regiões ricas em ouro como
Galam, Bambuk e Bure. Uma das principais trocas comerciais era o de pó de ouro
pelo sal do Saara. O ouro era demandado particularmente por poderes europeus
como Castela na Espanha e Veneza e Gênova na Itália, onde a cunhagem passava a
ser feita com metal precioso.
Mansa Musa I e a Expensão do Mali
Após uma sequência de governantes aparentemente sem brilho, o Império de Mali gozou de sua segunda era de ouro durante o reinado de Mansa Musa I na primeira metade do século XIII EC. Com um exército de aproximadamente 100,000 homens, incluindo um corpo de cavalaria pesada de 10,000 cavalos, e o talentoso general Saran Mandian, Mansa Musa foi capaz de manter e estender o Império de Mali, dobrando seus territórios. Ele controlou terras até a Gâmbia e o baixo Senegal no oeste; no norte, tribos foram subjugadas ao longo de todo a extensão comprimento das fronteiras do Saara Ocidental; no leste, o controle se estendeu até Gao no Rio Níger e, ao sul, a região de Bure caiu sob a supervisão de Mali. O Império de Mali então veio a incluir vários grupos étnicos, religiosos e linguísticos.
Mansa Musa, um dos governantes mais famosos do Império do Mali, ficou conhecido por sua riqueza e poder. Durante sua peregrinação à Meca em 1324, ele impressionou o mundo com sua generosidade e distribuição de ouro ao longo do caminho. Essa jornada contribuiu para a fama do Império do Mali e chamou a atenção do mundo muçulmano. Quando o rei de Mali visitou Cairo em 1324 EC, ele gastou, ou simplesmente presenteou tanto que o preço do ouro caiu 20%. Tais riquezas desencadearam uma onda de rumores de que Mali era um reino pavimentando à ouro.
Centros de aprendizado e cultura
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Mesquita de Djinguereber, em Tombuctu, construída por Mansa Mussa |
O Império do Mali foi uma civilização rica e culturalmente vibrante que floresceu na África Ocidental durante os séculos XIII e XIV. Durante seu apogeu, o Mali foi um centro de aprendizado, cultura e religião, vários centros de aprendizados se desenvolveram por meio do intercâmbio comercial. Timbuktu é talvez o centro mais conhecido de aprendizado e cultura do Império do Mali. Era uma cidade cosmopolita e próspera, conhecida por suas universidades e bibliotecas, que atraíam estudiosos, intelectuais e comerciantes de toda a África e do mundo islâmico. A Universidade de Sankore, em Timbuktu, era uma das mais renomadas instituições de ensino superior da época, com programas de estudo em uma variedade de disciplinas, incluindo teologia, direito, medicina, matemática, astronomia e história.
Outros centros além de Timbuktu também surgiram, Djenne, localizada no atual Mali, era outra cidade importante no
Império do Mali, conhecida por sua arquitetura única e por ser um centro de
aprendizado islâmico. A Grande Mesquita de Djenne é um dos exemplos mais
emblemáticos da arquitetura sudanesa de barro e é considerada uma das maiores
estruturas de adobe do mundo.
Um outro centro importante foi Gao que era a capital histórica do Império do Mali antes de Timbuktu se tornar o centro dominante. Embora seja mais conhecida por seu papel político e econômico, Gao também era um centro de cultura e aprendizado, com mesquitas, escolas e academias que atraíam estudiosos e intelectuais. Muitos outros centros assim como Koumbi Saleh e Niani esses centros de aprendizado e cultura do Império do Mali desempenharam papéis cruciais na disseminação do conhecimento, na promoção da arte e na preservação da herança cultural da África Ocidental. Eles são testemunhos da riqueza intelectual e da sofisticação da civilização maliana durante seu apogeu.
A islamização do império
O Islã se propagou por regiões da
África Ocidental através dos mercadores árabes que comerciavam nessas áreas.
Notáveis viajantes e cronistas muçulmanos como Ibn Battuta (1304 - c. 1369 EC)
escreveram que até mesmo o primeiro governante de Mali, Sundiata, teria se
convertido ao islamismo. Entretanto, a tradição oral Malinke, que foi mantida
por gerações por bardos especializados (griots), contam uma história diferente.
Embora reconhecendo que o islã
esteve presente em Mali muito antes do reinado de Sundiata, a tradição oral
atesta que o primeiro governante do Império de Mali não renunciou à religião
indígena animista. O que se sabe é que o filho de Sundiata, Mansa Uli (também
conhecido como Mansa Wali ou Yerelenku), saiu em peregrinação para Meca em 1260
ou 1270 EC, e que isto continuaria sendo uma tendência entre muitos dos governantes
de Mali. O islamismo na África Ocidental de facto se estabeleceu, entretanto, a
partir do reinado de Mansa Musa I.
A islamização teve um profundo impacto na sociedade e na cultura do Império do Mali, influenciando não apenas a religião, mas também a arte, a literatura, a arquitetura e as práticas sociais. Elementos da cultura islâmica foram integrados à vida cotidiana, resultando em uma síntese única de tradições africanas e islâmicas na região. Embora o islã tenha se tornado a religião dominante no Império do Mali, o império era conhecido por sua tolerância religiosa. As comunidades locais continuaram a praticar suas crenças tradicionais em paralelo com o islã, e havia uma aceitação geral da diversidade religiosa dentro do império.
Arquitetura, arte e
cultura
O Império do Mali desenvolveu uma rica tradição de arquitetura e arte. Grandes mesquitas, palácios e edifícios públicos foram construídos, muitos dos quais exibiam características arquitetónicas distintas, como o uso de tijolos de barro e ornamentação elaborada. A arte, incluindo esculturas de madeira, tecidos e cerâmicas, também floresceu, refletindo a cultura e as tradições do império. A arquitetura do Império do Mali é conhecida por sua grandeza e beleza. Os edifícios mais proeminentes eram mesquitas e palácios construídos em estilo sudanês, caracterizado por estruturas de adobe com formas arredondadas e cúpulas distintas. Um exemplo notável é a Grande Mesquita de Djenné, construída no século XIV, que é considerada uma das maiores estruturas de adobe do mundo.
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Horizonte da cidade de Timbuktu, um importante centro comercial |
A tecelagem era uma habilidade
importante entre os povos do Império do Mali. Tecidos coloridos e
elaboradamente decorados eram produzidos em teares manuais e eram usados como
vestimenta, decoração e até mesmo como forma de troca de valor. A cultura do
Império do Mali também incluía uma rica tradição oral de literatura e poesia.
Os griôs, ou poetas itinerantes, desempenhavam um papel importante na
preservação da história e da cultura do império por meio de suas narrativas e
músicas.
Os malinke tinham uma rica
tradição de recontar lendas e histórias da comunidade oralmente por contadores
de histórias especializados, conhecidos como griots. Estas histórias, que
atravessavam gerações (e continuam até hoje), eram frequentemente acompanhadas
por música. Na época do Império de Mali, havia inclusive canções reservadas a
certas pessoas que tinham o direito exclusivo de tê-las cantadas em sua honra,
isto era especialmente comum entre guerreiros e caçadores renomados. A música
era também parte importante de festivais religiosos quando dançarinos
mascarados também se apresentavam.
Declínio
O Império de Mali estaria em
declínio por volta do século XV EC. As leis mal definidas para a sucessão real
frequentemente levavam a guerras civis, quando irmãos e tios lutavam entre si
pelo trono. Então, ao passo que novas rotas de comércio abriam em outros lugares,
diversos reinos rivais se desenvolviam no oeste, notadamente Songai. Navios
europeus, especialmente portugueses, agora estavam navegando sul, pela costa
oeste da África, apresentando forte concorrência às caravanas transaarianas
como o meio de transporte de cargas mais eficiente da África Ocidental para o
Mediterrâneo.
Houve ataques à Mali pelos Tuareg em 1433 EC e pelo povo Mossi, que naquele tempo controlava as terras ao sul do rio Níger. Por volta de 1468 EC, o rei Sunni Ali do Império de Songai (r. 1464 - 1492 EC) conquistou boa parte do Império de Mali que agora estava reduzido a controlar uma pequena porção do que uma vez foi seu grande território. O que permaneceu do Império de Mali foi absorvido pelo Império Marroquino em meados do século XVII EC.
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