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Uma casa tradicional de banco (terra batida), Oualata
(Walata), Mauritânia |
O Império do Gana, Reino
do Gana ou Império de Uagadu foi um antigo império que dominou a África
Ocidental durante a Idade Média. O
império desenvolveu-se aproximadamente entre os séculos IV e XIII d.C. O
Império do Gana estava localizado na região da África Ocidental, no território
que hoje é ocupado pelos países do Gana, Mali e Mauritânia.
O Império de Gana era
composto principalmente pelo povo Soninke (também conhecido como Sarakole), que
falava Mande (também conhecido como Mandingo) e que ocupava a área de savana
entre o rio Níger (a sudeste) e o rio Senegal (a sudoeste). Esses rios e o
deserto do Saara ao norte formaram um triângulo natural de pastagens planas que
o Império de Gana ocuparia (hoje porções ao sul da Mauritânia e do Mali). A
região dominada pelos Soninke é frequentemente referida como Wagadu nas
tradições orais indígenas ou como Wangara, o termo dos geógrafos muçulmanos
para o Médio Níger.
O império não tinha nome
então passou a ser chamado de "𝐆𝐚𝐧𝐚"
(que significa "𝒄𝒉𝒆𝒇𝒆 𝒈𝒖𝒆𝒓𝒓𝒆𝒊𝒓𝒐")
o qual na verdade era o título do líder desse Império, os seus primeiros
governantes constituíram a dinastia dos Magas, uma família berbere, apesar de o
seu povo súdito ser constituído por negros das tribos soninquês. Em 770, os Magas foram derrubados pelos
soninquês, e o império expandiu-se grandemente sob o domínio de Caia Magã
Cissé, que foi rei cerca de 790.
Nessa altura, o Império
do Gana começou a adquirir uma reputação de ser uma terra de ouro. Atingiu o
máximo da sua glória durante os anos 900 e atraiu a atenção dos árabes. Depois
de muitos anos de luta, a dinastia dos Almorávidas berberes subiu ao poder,
embora não o tenha conservado durante muito tempo. O império entrou em declínio
e, em 1240, foi destruído pelo império do Mali.
O comércio no Império de
Gana foi facilitado pela abundância de ferro, cobre , ouro e marfim e pelo fácil
acesso aos rios Níger e Senegal e seus afluentes. Os reis do Gana, residentes
na capital, Koumbi Saleh, enriqueceram imensamente, acumulando reservas de
pepitas de ouro que só lhes era permitido possuir. Consequentemente, a
reputação do Gana espalhou-se pelo Norte de África e pela Europa , onde foi
descrito como uma fabulosa terra de ouro. O Império do Gana desmoronou a partir
do século XII dC, após secas, guerras civis, a abertura de rotas comerciais em
outros lugares e a ascensão do Reino do Sosso (c. 1180-1235 dC) e depois do
Império do Mali (1240-1645 dC).
A influência do Gana no comércio da África Ocidental
O Gana estava
estrategicamente localizado entre as regiões produtoras de ouro ao sul e os
mercados do norte da África e do Mediterrâneo. Isso permitiu que o império
controlasse e taxasse as rotas comerciais que cruzavam seu território,
especialmente a rota transaariana, que ligava as regiões produtoras de ouro ao
comércio mediterrâneo.
Gana estabeleceu um
monopólio sobre o comércio de ouro na região, controlando a produção e a
distribuição do precioso metal. Isso permitiu ao império acumular uma grande
riqueza e estabelecer relações comerciais vantajosas com outros estados e
mercadore, o império do Gana era conhecido por cunhar suas próprias moedas de
ouro, que se tornaram amplamente aceitas como meio de troca em toda a região.
Essas moedas contribuíram para a padronização e a facilitação do comércio
dentro e fora do império. Além do ouro, o comércio no Império do Gana envolvia
uma variedade de outros bens, incluindo sal, escravos, marfim, tecidos e
produtos agrícolas. O Gana atuava como um importante centro de intercâmbio
comercial, facilitando a troca de bens entre as regiões do Sahel e o norte da
África.
O comércio florescente no
Império do Gana levou ao desenvolvimento de importantes centros urbanos, como a
capital Koumbi Saleh. Essas cidades não apenas serviam como mercados e centros
administrativos, mas também como locais de troca cultural e intelectual.
A influência do Império
do Gana no comércio da África Ocidental foi fundamental para o desenvolvimento
econômico e político da região durante a Idade Média. Seu controle sobre as
rotas comerciais e sua posição como um dos principais produtores de ouro da
África Ocidental o tornaram uma potência dominante na região por vários
séculos.
O
Comércio de Ouro
O comércio do ouro
desempenhou um papel crucial no Império do Gana, também conhecido como Império
de Wagadugu, que floresceu na África Ocidental entre os séculos VIII e XIII. O
Gana foi uma das primeiras grandes civilizações da região e se tornou conhecido
por seu controle sobre as rotas comerciais de ouro.
O Gana tinha acesso a
ricas minas de ouro em sua área, especialmente nas regiões ao sul de sua
capital, Koumbi Saleh (atualmente localizada no sul da Mauritânia e no norte do
Mali). O ouro era extraído principalmente de minas terrestres, mas também podia
ser coletado de forma menos intensiva em áreas aluviais.
O Império do Gana estava
localizado em uma posição estratégica entre os produtores de ouro ao sul e os
mercados mediterrâneos ao norte. Controlava a rota transaariana, que conectava
as regiões produtoras de ouro da África Ocidental com os mercados do norte da
África e do Mediterrâneo. Essa rota comercial atravessava o deserto do Saara e
era vital para o comércio de ouro, assim como de sal e outros bens.
O Gana estabeleceu um
monopólio sobre o comércio de ouro na região e impôs tributos sobre o ouro que
passava por seu território. Isso permitiu ao império acumular riqueza e manter
seu poder político e militar. O ouro era uma fonte de grande riqueza e
prestígio para o Império do Gana. Era usado para cunhar moedas e para adornar
palácios, templos e pessoas de alto status social.
Além do ouro, o comércio
no Império do Gana envolvia uma variedade de outros bens, incluindo sal,
escravos, marfim, tecidos e produtos agrícolas. O ouro era trocado por bens
como tecidos finos, cavalos e metais preciosos importados. O comércio de ouro
foi uma das principais fontes de poder e prosperidade para o Império do Gana e
desempenhou um papel central em sua ascensão como uma das grandes potências da
África Ocidental medieval.
Governo
centralizado
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Ruínas de Kumbi Saleh, a capital de Gana onde residiam os mercadores. A cidade foi reencontrada em 1914, durante o período da ocupação francesa.
O império prosperou
graças a um exército bem treinado que tinha unidades de cavalaria e acesso a
matérias-primas como minério de ferro para fabricar suas armas e depósitos de
ouro para pagar seus soldados. Talvez seja significativo que os ferreiros e
falsificadores tenham desfrutado durante muito tempo de um estatuto elevado na
região do Sudão. A posse de camelos com a sua utilidade como transporte de
mercadorias e pessoas foi outro factor da superioridade dos Soninke sobre os
seus rivais. Com estas vantagens, o Império do Gana adquiriu novos territórios
e novos tributos dos chefes tribais subjugados, e eles puderam monopolizar
primeiro o comércio local e depois o regional.
Organização
Administrativa
O império era dividido em
províncias governadas por governadores nomeados pelo Gana. Cada província tinha
sua própria capital e uma administração local. Isso ajudou na coleta de
impostos, na manutenção da ordem e na aplicação da justiça.
A capital do Império de
Gana era provavelmente Koumbi Saleh (na ausência de quaisquer outros candidatos
viáveis). Também conhecido simplesmente como Gana, está localizado a 322 km
(200 milhas) ao norte da moderna Bamako, no Mali. A capital era muito maior do
que se pensava anteriormente - as descrições árabes medievais de uma população
de 40 a 50 mil habitantes agora parecem conservadoras após escavações recentes,
que mostram a cidade espalhada por uma área de 110 acres (45 hectares) com
muitos outros assentamentos menores imediatamente ao seu redor. . As escavações
também revelaram uma mesquita significativa, uma grande praça pública e partes
de um muro circular e um portal monumental. As moradias eram tipicamente
térreas e feitas com tijolos secos de barro, terra batida e madeira ou pedra,
todos usados na região desde a pré-história e ainda hoje em uso. O viajante
árabe Al-Bakri, que visitou perto do fim da história do império em 1076 dC,
descreve a capital como sendo cercada por poços e com campos irrigados onde cresciam
muitos vegetais. Ele continua afirmando:
Cultura
e Religião
No Império do Gana, a
cultura e a religião desempenharam papéis fundamentais na coesão social, na
identidade nacional e no funcionamento do Estado.
A religião predominante
no Império do Gana era o animismo, que envolvia a crença na existência de
espíritos e divindades que habitavam o mundo natural. Os animistas acreditavam
na interação entre humanos e espíritos, e práticas religiosas incluíam rituais
de culto aos ancestrais, adoração da natureza e crença em poderes sobrenaturais.
Além das crenças
animistas, outras religiões, como o islamismo, também estavam presentes no
Império do Gana. Houve um processo de sincretismo religioso, no qual elementos
das religiões tradicionais africanas foram incorporados às práticas islâmicas e
vice-versa. Isso resultou em uma forma única de religiosidade que combinava
tradições locais com influências externas.
Os reis do Império do
Gana desempenhavam papéis importantes tanto na esfera política quanto na
religiosa. Eles eram frequentemente vistos como intermediários entre o mundo
humano e o divino, e seus rituais e cerimônias tinham um caráter religioso. Os
reis eram frequentemente enterrados com grande pompa e cerimônia, e seus túmulos
eram considerados locais sagrados.
A arte e a expressão
cultural floresceram no Império do Gana, refletindo as crenças religiosas, os
costumes e a identidade do povo. Isso incluía esculturas, tecelagem, cerâmica,
música e dança. Muitas das obras de arte produzidas durante esse período tinham
temas religiosos ou espirituais e eram usadas em contextos rituais e
cerimoniais.
A transmissão de
conhecimento, mitos, lendas e tradições culturais no Império do Gana era
amplamente realizada por meio da tradição oral. Os griôs, ou bardos,
desempenhavam papéis importantes na preservação e transmissão da história, da
cultura e da religião oralmente de geração em geração.
A cultura e a religião
desempenharam papéis vitais na vida cotidiana e na estrutura social do Império
do Gana, moldando as crenças, valores e práticas dos seus habitantes. Esses
aspectos contribuíram para a coesão social e a identidade do império ao longo
de sua existência.
Declínio
O Império do Gana começou
a declinar no século XI, principalmente devido a invasões de grupos nômades,
como os almorávidas. Essas invasões enfraqueceram o poder central do império e
interromperam as rotas comerciais. O declínio também foi atribuído a disputas
internas pelo poder e mudanças no comércio global.
O Império de Gana
realmente começou a entrar em colapso no século XII dC. O declínio começou
quando outras rotas comerciais concorrentes se abriram mais a leste e quando o
clima se tornou invulgarmente seco durante um período prolongado, o que afectou
a produção agrícola. Os governantes do Gana também não se ajudaram, pois o
império foi assolado por uma série de guerras civis, as divisões talvez
baseadas no conflito inerente entre as crenças muçulmanas e animistas.
Entretanto, muitos chefes rebeldes aproveitaram a oportunidade de um governo
central fraco para se declararem independentes do império, nomeadamente Tekrur,
na região ocidental do Sudão, que controlava o rio Senegal e que até se aliou
aos Almorávidas.
SUGESTÃO
DE LEITURA:
- Ki-Zerbo, J. (ed.). História Geral da África da UNESCO, vol. IV, Edição Resumida. Imprensa da Universidade da Califórnia, 1998.
- Djibril Tamsir Niane: Historiador guineense autor do livro "Sundiata: An Epic of Old Mali", que aborda a história do Império do Mali, mas também faz referências ao Império do Gana.
- Nehemia Levtzion: Historiador israelense conhecido por seus estudos sobre a história da África Ocidental, incluindo o Império do Gana.
- Shinnie P.L.: Arqueólogo britânico especializado em arqueologia africana e autor de estudos sobre a cultura e história do Império do Gana.
- Emerson Santiago (12 de julho de 2011). «Império de Gana».
- Lilian Maria Martins De Aguiar. «O Império do ouro no Reino de Gana».
- Mokhtar, G. (ed.). História Geral da África da UNESCO, vol. II, Edição Resumida. Imprensa da Universidade da Califórnia, 1990
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