Rotas comerciais do Sahara em |
Falar de África não é só falar do
Egipto, o continente teve outros povos desenvolvidos além do Egipto, e esses
povos não eram isolados como muitos afirmam, esses povos ou impérios tinham
economias estáveis, e naquele tempo já existia o que hoje é chamado de "𝐜𝐨𝐦é𝐫𝐜𝐢𝐨
𝐥𝐢𝐯𝐫𝐞”
o continente estava interligado entre si e com o resto do mundo, por meio de
rotas que são conhecidas hoje por muitos como "𝐜𝐨𝐦é𝐫𝐜𝐢𝐨
𝐭𝐫𝐚𝐧𝐬𝐚𝐚𝐫𝐢𝐚𝐧𝐨".
O comércio transaariano era uma
rede de rotas comerciais que cruzavam o deserto do Saara, ligando a região do
Magrebe, na África do Norte, com as regiões subsaarianas da África Ocidental.
Essas rotas comerciais eram usadas para transportar ouro, sal, marfim,
escravos, tecidos e outros bens valiosos entre as regiões. O comércio
transaariano, em suas diversas rotas, conectava várias praças mercantis com as
zonas de abastecimento, as minas de sal do Deserto do Saara, as regiões
auríferas do Sael e as áreas de extração de pimenta e noz-de-cola das florestas
tropicais. O reino de Mali, da mesma região de Gana, sendo mais poderoso,
controlava o comércio transaariano e as rotas caravaneiras. Ele favoreceu a
difusão do islamismo no norte da África e nos reinos e impérios do Sael (entre
o deserto do Saara e as terras mais férteis, ao sul), onde eram comercializadas
especiarias. Os terminais norte do comércio transaariano eram formados pelos
pontos mediterrânicos, como os de Túnis, Cairo e Argel, e por cidades como
Marraquexe, Sijilmassa e Fez. Os terminais sul dessas rotas eram as cidades
saelianas de Audagoste, Ualata, Tombuctu, Gao, Tadmeca e Agadéz. A partir daí,
os produtos trazidos pelas caravanas seguiam por redes transaelianas de
comércio, tanto na direção leste como na oeste.
A importância do ouro no comércio transaariano
O ouro desempenhou um papel crucial no comércio transaariano. O ouro era altamente valorizado em todo o mundo antigo e medieval. Sua raridade, durabilidade e brilho o tornavam um símbolo de riqueza e prestígio. No contexto do comércio transaariano, o ouro era uma mercadoria altamente desejada. O ouro servia como meio de troca nas rotas comerciais. Os comerciantes usavam-no para comprar outros bens, como sal, escravos, tecidos e especiarias. Sua aceitação generalizada facilitava as transações entre diferentes culturas e povos.
O ouro era extraído de minas na
região do Sael, ao sul do Saara. Essa área era rica em depósitos auríferos. O
comércio transaariano permitia que o ouro fosse transportado para o norte, onde
era trocado por outros produtos. Essa conexão entre o norte e o sul era vital
para a economia de ambas as regiões. Os reinos e impérios que controlavam as
rotas transaarianas também controlavam o fluxo de ouro. Isso lhes conferia
poder político e prestígio. Por exemplo, o reino de Mali era conhecido por sua
riqueza em ouro e sua influência no comércio transaariano.
As principais Rotas do comércio transaariano
Caravana em tempos modernos de camelos cerca de Ahaggar em saara |
O comércio transaariano envolvia uma intrincada rede de rotas comerciais que cruzavam o deserto do Saara, conectando diferentes regiões da África.
- Rota Transaariana: Esta rota seguia pelo deserto do Saara, ligando o Magrebe (região do norte da África) com as áreas subsaarianas da África Ocidental. Os tuaregues, um grupo berbere do norte da África, desempenhavam um papel fundamental nesse comércio, criando camelos e vendendo-os como animais de carga. Eles controlavam as rotas e os oásis em toda a extensão do deserto, desde a costa mediterrânea até o Sael, na borda sul do Saara.
- Rota Transaheliana: Essa rota percorria a região do Sahel, uma faixa de 5.400 km de extensão e 700 km de largura na África Subsaariana. O Sahel constituía uma zona de transição entre a aridez do deserto e as florestas tropicais mais ao sul. As caravanas atravessavam enormes dunas de areia e extensos trechos de aridez absoluta, enfrentando desafios como a escassez de água. Os produtos mais trocados incluíam matérias-primas, alimentos, escravos, tecidos, ouro, cobre, pérolas e marfim.
- Portos Caravaneiros: À medida que as caravanas chegavam ao Sahel, as mercadorias eram transferidas para as costas de bois e jumentos, que continuavam a viagem mais ao sul. Os locais de parada obrigatória no Sahel transformaram-se em centros de comércio poderosos, fornecendo serviços como descarga e recarga de animais, conserto de selas e arreios, armazenagem de produtos e escravos, hospedagem e venda de alimentos e artigos de couro e metal.
O impacto do comércio transaariano na economia africana
Djenné, fundada em 800, foi um importante centro comercial, hoje património mundial. |
O comércio transaariano teve um impacto significativo na economia africana, moldando as sociedades e as relações comerciais em várias regiões. Vamos explorar alguns dos principais impactos:
- Crescimento Econômico e Desenvolvimento: O comércio transaariano estimulou o crescimento econômico em várias áreas. As rotas comerciais permitiram a troca de bens valiosos, como ouro, sal, marfim e outras especiarias, entre o norte e o sul do Saara. Isso impulsionou o desenvolvimento de cidades mercantis, como Tombuctu e Gao, que se tornaram centros de comércio e cultura.
- Intercâmbio Cultural e Religioso: As caravanas comerciais não transportavam apenas mercadorias, mas também ideias, religiões e conhecimento. O islamismo se espalhou ao longo das rotas transaarianas, influenciando as culturas locais e criando uma rede de comunicação e intercâmbio intelectual.
- Poder Político e Prestígio: Os reinos e impérios que controlavam as rotas transaarianas tinham grande poder político e prestígio. O Reino de Mali, por exemplo, era conhecido por sua riqueza em ouro e sua influência no comércio. Esses estados usavam o controle sobre as rotas para fortalecer sua posição regional e internacional.
- Transformação das Economias Locais: O comércio transaariano afetou as economias locais nas áreas de origem e destino das caravanas. Por exemplo, as cidades saelianas prosperaram com o comércio, enquanto as minas de ouro no Sael se tornaram centrais para a economia. Além disso, a demanda por escravos aumentou, impactando as sociedades africanas.
- Desafios e Riscos: As rotas transaarianas também enfrentaram desafios, como a escassez de água, as tempestades de areia e os ataques de grupos nômades. No entanto, as recompensas econômicas superavam os riscos, incentivando os comerciantes a continuar suas jornadas.
O desenvolvimento de
centros de comércio e trocas culturais
Ao longo das rotas comerciais, surgiram centros comerciais importantes, que se tornaram pontos de encontro para os comerciantes. Cidades como Gao, Timbuktu, Djenne, Ghadames e Sijilmasa se desenvolveram como centros comerciais prósperos, onde as mercadorias eram trocadas, armazenadas e vendidas. O comércio transaariano não se limitava apenas à troca de mercadorias, mas também promovia a troca de conhecimentos, ideias e culturas. Por meio do comércio, os africanos tiveram contato com as civilizações do mundo mediterrâneo, como árabes, berberes, e fenícios, resultando em influências culturais mútuas.
Controlar partes das rotas comerciais transaarianas era uma fonte significativa de riqueza e poder para os reinos e impérios africanos. A cobrança de impostos sobre as mercadorias que passavam por seus territórios permitia que essas entidades políticas acumulassem recursos e mantivessem o controle sobre as rotas comerciais. O Império do Gana, o Império do Mali e o Império Songhai são exemplos de poderosos reinos africanos que se beneficiaram do comércio transaariano. Esses impérios controlavam parte das rotas comerciais e cobravam impostos sobre as mercadorias que passavam por seus territórios, o que lhes proporcionava uma fonte significativa de riqueza e poder. Esses aspectos ajudaram a moldar a história, a cultura e as interações sociais na África antiga, estabelecendo um legado duradouro que ainda pode ser observado em muitas partes do continente hoje.
Declínio:
O comércio transaariano declinou
gradualmente a partir do século XVI, devido a factores como o surgimento de
rotas marítimas mais acessíveis, o avanço do colonialismo europeu e as mudanças
nas rotas comerciais globais. No entanto, a importância histórica e cultural do
comércio transaariano na África antiga é reconhecida até hoje, e algumas das
cidades ao longo dessas rotas continuam a preservar sua rica herança comercial
e cultural.
Sugestão de Leitura:
- Insoll, T. (Ed.). (2003). The Archaeology of Islam in Sub-Saharan Africa (A Arqueologia do Islão na África Subsariana). Cambridge University Press.
- Levtzion, N., & Hopkins, J. F. P. (2000). Corpus of Early Arabic Sources for West African History (Corpo de Fontes Árabes Antigas para a História da África Ocidental). Cambridge University Press.
- Hunwick, J. O. (2003). Timbuktu e o Império Songhay: O Ta'rikh al-Sudan de Al-Sa'di até 1613 e outros documentos contemporâneos. BRILL.
- Mauny, R. (1971). Tableau géographique de l'ouest africain au moyen âge d'après les sources écrites, la tradition et l'archéologie. IFAN.
- Gomez, M. A. (2005). Domínio Africano: A New History of Empire in Early and Medieval West Africa [Uma Nova História do Império na África Ocidental Primitiva e Medieval]. Princeton University Press.
- Shinnie, P. L. (1966). The African Iron Age. Clarendon Press.
- Coquery-Vidrovitch, C. (1998). African Women: A Modern History. Westview Press.
- Bovill, E. W. (1995). The Golden Trade of the Moors. Oxford University Press.
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